sábado, 20 de fevereiro de 2010

O GATO NA JANELA


Hoje pela manhã quando abri a janela do meu quarto, lá estava ele me olhando com seus lindos olhos azuis. Ele é lindo! Seu pelo dourado, mesclado com preto, parece um tigre daqueles que se vê em fotos de safaris na África. E ele se aninha, ajeitando-se de um modo como só ele sabe fazer.

Ficamos, por algum tempo, trocando olhares. Ele bocejou, esticou-se todo, e voltou a me olhar novamente, como a me dizer: - Veja que delícia de vida! Hoje é sábado e vou aproveitar para tirar uma soneca gostosa! Em seguida, como se eu adivinhasse o que faria, deitou-se prazerosamente e fechou os olhos para dormir.

Eu, da janela do meu apartamento, fiquei com inveja daquela pose toda. Justamente por ser sábado, meu dia ia ser cheio e cansativo. Talvez nem tivesse tempo para dormir uma soneca. Seria tão bom se eu pudesse adormecer como ele, sem fazer nada o dia inteiro.

Parece-me que gatos dormem o tempo todo. Acordam-se apenas para comer, fazer suas necessidades fisiológicas e ... dormir novamente. Haja sono. A casa pode virar de cabeça para baixo e eles nem estão aí. 

Por diversas ocasiões em minha vida, tive gatos. Quando criança, morava numa casa onde, no pátio havia a casinha do cachorro, que era um só e uma casinha maior, que era  o gatil. Sim, porque era um verdadeiro arsenal de gatos. Eram lindos, grandes, médios e pequenos e tinham, cada um deles, seu nome próprio. Como eram muitos (certa vez haviam seis) nós, as crianças, chamávamos cada um pelo seu nome.

Meus pais não gostavam de tantos gatos. Às vezes, dávamos um ou  outro de presente para algum amigo, que fazia aniversário. No verão, dávamos banho seguidamente nos gatos, colocando-os dentro do tanque de lavar roupas e, um por um, tomava o seu banho refrescante.

Volta e meia haviam gatinhos novos. Apaixonávamo-nos por eles e ninguém conseguia tirá-los de nós. Eram mimosos e fofinhos, quando recém nascidos e tornavam-se nossos bebês, pois cuidávamos deles tanto quanto a gata-mãe.


Certa vez, duas fêmeas tiveram gatinhos com pouca diferença de dias. Ao todo, vieram mais dez gatos a somar-se aos que já haviam. Minha mãe quase enlouqueceu. Ficou muito brava e nos disse: - dêem estes gatos todos. Isso aqui parece um zoológico, de tantos gatos que têm. Aí, bateu-nos a pena. Qual deles seria dado? 


Haviam aqueles que eram de nossa predileção. Estes não podiam ir embora! Acabamos decidindo que daríamos os recém-chegados, assim que desmamassem. Levamos a decisão até nossa mãe, que acabou concordando. E então, com o passar do tempo, chegou o derradeiro dia. Distribuição geral e gratuíta de felinos.


Reunimos os amigos e colegas de escola e conseguimos nos livrar dos bichanos. Mas as gatas-mãe, miavam chamando seus filhotes, inutilmente. Era de dar pena. Escondidos, chorávamos pela falta dos bichinhos.

.....


E hoje, enquanto aspirava o pó de casa, fiquei pensando sobre como éramos bobos naquela época. As crianças de agora, até que se apegam a cachorros e gatos, mas no nosso tempo era diferente. Nós os tratávamos como se fossem pessoas e, assim, o apego era maior.

Depois de limpar todo o apartamento, fui à janela espiar meu amigo de olhos azuis. Lá estava ele, como de hábito, dormindo. Fiz barulho com a janela e ele, de seu posto, na fenestra da vizinha ao lado, abriu os olhos e me fitou, como se dissesse: - menina, como trabalhas num sábado? Tira um tempinho, e vai dormir um pouco. Vê se consegues uma soneca gostosa, como a minha! Que delícia de vida!



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